Casa “bandeirista” do Butantã
Hoje, além da parte teórica da aula de História da Arquitetura, fizemos uma visita à Casa do Bandeirante do Butantã. É uma casa do período colonial, construída na primeira metade do século XVIII em taipa de pilão, que conta com cerca de 350 metros quadrados e é dividida em 12 cômodos mais alpendres frontal e posterior.
Representa uma tipologia do morar rural paulista do período, e um dos poucos exemplares que sobreviveram até os dias de hoje. Teve diversos proprietários e, apesar disso, a casa só aparece oficialmente após a década de 1940 e, somente na década de 1950, adquire importância histórica.
É possível observar em sua planta baixa que há distinção de programa entre a moradia rural (este caso) e a urbana e também entre a moradia paulista (este caso) e a nordestina do mesmo período. Na casa bandeirista do Butantã os alpendres apresentam-se ligados por duas salas, ladeadas por possíveis alcovas.
Possíveis pois, devido à miscigenação entre portugueses e indígenas, o hábito de dormir em rede era difundido e, como não era possível furar as apredes para fixá-las, usava-se toras de madeiras com forquilhas nas pontas onde eram penduradas as redes; as toras por sua vez eram fincadas no chão, o que ocorria em vários cômodos… Outra função que parece difusa nos diversos cômodos era o comer, vários vestígios de comida foram encontrados sob praticamente todos ambientes, indicando que a cozinha pode ter sido um trempe, móvel, dinamizando também o local da alimentação familiar.
É bom lembrar que além da casa havia também a moenda de cana, a fábrica de farinha de mandioca, o estábulo e um muro, também de taipa, circundando a casa – cumprindo funções complementares, mas que infelizmente não resistiram até o presente.
A técnica construtiva é o que apresenta de mais interessante, no meu ponto de vista. A taipa responde muito bem ao clima paulista pois tem grande inércia térmica, sendo capaz de esquentar mais lentamente ao longo do dia e esfriar mais lentamente no fim do dia. O fato das paredes serem de barro socado, torna-as frágeis às chuvas, frequentes por aqui. Assim, o beiral alonga-se, afastando a queda das gostas de chuva dos pés das paredes e também incorre numa dupla inclinação do telhado, a primeira – que parte da cumeeira – é mais inclinada e a que vem na sequência, tem menor declividade, diminuindo a velocidade das águas pluviais e sua capacidade erosiva ao cair do telhado.
As paredes são grossas (cerca de 40cm) e apresentam hoje algumas incógnitas, como um arco sobre uma porta – foi feito sobre uma forma que depois foi removida ou é fruto dasdiversas intervenções e restauros ao longo dos tempos? Findando a questão da técnica, parece a taipa de pilão ter sido escolha e não falta dela. Ao contrário do que muito se diz, a taipa não foi adotada no lugar da pedra porescassez desta última – havia sim matéria-prima disponível para ambas técnicas. No entanto, as construções com pedra demandam ferramentas (metálicas) mais elaboradas, que têm maior desgaste e demandam mais reparos e manutenção, além de que exige mão de obra mais requintada. Já a taipa, constitui-se técnica mais simples em relação a ferramental e nível de exigência da mão-de-obra.
Por conta do IV centenário, a casa foi objeto de restauro de Luis Saia. E, embora fundamental a atividade de restauro, é passível de críticas que, neste caso, são frequentes no que tange à priorização de uma suposta autenticidade formal em detrimento do compromisso com uma autenticidade histórica.
Para quem quiser visitar:
Praça Monteiro Lobato, s/ nº, Butantã – São Paulo / SP
Telefone: (11) 331-0920
Aberta de terça a domingo, das 9h às 17h
Entrada Franca
Algumas referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_do_Butantã
http://www.museudacidade.sp.gov.br/casadobandeirante.php
http://www.piratininga.org/casa_do_butanta/sitio_butantan.htm
http://www.guiabutanta.com/obutanta/casa-dos-bandeirantes.htm
http://taipadepilao.blogspot.com/
Hello Haydée, I´m involved in a research program at the ETH Zürich and we are very interested in this house. The purpose is to study ist envelope in terms of energy. Would you please contact me?
Thanks in advance. Víctor