Mulheres-feira: diferenças e opressões
Hoje, quase passou desapercebido por mim a matéria cujo título era: Mulher Alface prega vegetarianismo e é presa na Jordânia.
Enquanto lia “mulher alface” foi praticamente inconsciente o ato de pular e seguir para a próxima matéria do jornal da manhã. Mas depois, um pouco de trâsito paulistano foi o responsável por eu pegar o jornal novamente e ler aquelas pequenas matérias que haviam ficado para trás, mais desimportantes… e aí li o título inteiro e a nota completa.
Achei muito interessante o protesto e me chamou a atenção a frase “A polícia afirmou que as mulheres não têm autorização para realizar manifestações.” e a carga machista que ela contém.
E por que diabos eu pulara o tal texto? Por quê? Isso me incomodava…
Pensei nisso ao longo do dia e acabei achando a resposta: eu achara que era mais um modelo de mulher-fruta lançado recentemente pela mídia, em algum programa de auditório ou algum baile funk, tal qual mulher melancia, mulher samambaia, ou algum outro artigo encontrado em feiras livres.
E não é que algo realmente as ligam? A opressão de gênero.
Para a alface, uma repressão por ela protestar, repressão por ela ser mulher e querer expressar-se, repressão ao seu direito de livre expressão.
Para a melancia e a samambaia, repressão por elas tornarem-se produto de consumo, repressão por elas não poderem se expressar de outra maneira, com reconhecimento, que não tirando a roupa e excitando os homens que perdem seus olhos pelas bancas com seus pintinhos moles.
A alface reivindica consciência de consumo, a melancia e a alface propiciam consumo da consciência.
A todas é tolhido o direito de livre expressão. À do oriente não é permitido manifestar ou tirar a roupa; às do ocidente só é permitido tirar a roupa – ou alguém sabe o que as brasileiras pensam sobre alguma coisa?
As pessoas devem considerar que nossa (brasileira) realidade é muito melhor que a da Jordânia e de outros países islâmicos, que as mulheres brasileiras (tratadas “em geral” como “nossas mulheres”, uma forma um tanto quanto possessiva) possuem mais liberdade que as islâmicas porque “podem” (devem?!) “tirar a roupa”, se vestir “como quiserem”.
Mas parece-me que por mais restritiva e impositiva que seja a realidade islâmica, parece-me que as mulheres islâmicas possuem uma liberdade que a maioria das mulheres brasileiras não compartilha, que é a de conseguir perceber a realidade abusiva e opressora na qual elas estão inseridas.
Por mais que a “mulher alface” tenha feito um protesto com roupa e véu, ela tem consciência de sua situação de oprimida. Já as brasileiras, em geral, se acham muito livres e não conseguem perceber o quanto são oprimidas, discriminadas e consumidas.
Quanto à matéria em si, será que o(a) autor(a) da matéria teve consciência clara das opressões às quais as mulheres das diversas culturas estão submetidas e dessa relação que foi, (in)voluntariamente, colocada? hehehe
Muito boa a reflexão!
Te Amo! =)
Bjs
Mandaram bem.
Não sei muito sobre isso, Diego, mas o pouco que vi mostra mulheres que acham que é está tudo muito bem, obrigado, por aquelas bandas. Ou que pelo menos que fingem… mas aqui tb. temos as que fingem.