Perdas de alunos da USP…
Mais um estudante da USP é encontrado morto, é o segundo em menos de 1 mês. No início de novembro foi um estudante da Poli, de 24 anos, que foi encontrado num córrego após uma festa tradicional (Corso) de São Carlos. Esta semana, foi um estudante de filosofia, de 42 anos, encontrado na Praça do Relógio (e não em frente à FEA como noticiado por algumas mídias).
O que eles têm em comum? Sinceramente, não sei e acho que pouco – mas certamente eram duas vidas que não precisavam ser perdidas tão cedo. Entretanto, tocam questões delicadas da nossa Universidade e sociedade: festas, excessos e socorro.
A respeito das festas, elas são gostosas e necessárias para relaxar e integrar as pessoas, porém, me preocupa cada vez mais ser o barato da balada ficar muito louco (com bebia ou drogas das mais diversas) e perder a noção da realidade. O que fazemos com nós mesmos para que seja tão sedutor e praticamente irresistível essa fuga descontrolada da realidade? Pressão da família? Da sociedade? De nós mesmos? Competição por toda parte? Preciso ter carro, dinheiro… pegar a/o menina/o mais gata/o… preciso tirar as melhores notas… preciso ter o melhor trabalho… ganhar o melhor salário… Aff. Cansei só de escrever. E os amigos – e não companheiros de baladas? Aqueles que você terá prazer em conversar daqui 10, 20 anos? E a sensação de inadequabilidade leva a posturas estranhas, comportamentos desenvolvidos para ganhar aceitação de um grupo (arrotar feito um louco após um Integrapoli ou um Bixopp, na Poli, é quase um ingresso para os gupos mais populares…). Muito me preocupa a forma com que amigos e colegas relacionam-se com a realidade, sua efemeridade e permanência, e a que se submetem pela aceitação / não-rejeição. Como e onde têm andado nossos amigos e colegas para se sentirem aceitos? O que fazer? Não sei, só acho que não deixá-los sozinhos é o único caminho que pode nos ensinar a aprendermos juntos sobre a realidade e seus obstáculos.
Aí após exageros ou não, muito de nós recorrem ao sistema de saúde e, quando estamos na USP, isso significa ir para o HU. E lá, acreditem, nem sempre (ou raramente) somos bem-tratados. E não depende se você chega bêbado ou não… Eu já cheguei lá com crise de gastrite e fui mal-tratada (sem contar que furaram 5 vezes minha mão até pegar uma veia…). Presenciei também uma enfermeira atender uma menina que havia tentado suicídio fazendo julgamento e tentado dar lição de moral – algo do tipo: se você está sofrendo aqui é porque você quis e fez por onde… quem é essa pessoa para julgar outrém e qual seu preparo para lidar com esse tipo de situação?! E, no caso do estudante de filosofia cabe, no mínimo, uma investigação pois levantou-se a hipótese que ele havia procurado o HU e não fora atendido (pouco antes de passar mal e falecer).
Então, se houve negligência (também por parte da Guarda Universitária que demorou 6h para providenciar a retirada o corpo do local) isso deve ser averiguado e punido – e não por tratar-se da Universidade de São Paulo, mas porque em qualquer lugar, casos sememelhantes merecem investigação. Omissão daqueles que devem zelar pelo bem-estar da população não deve ser aceita como fato dado, mas dado a ser transformado.
Algumas referências:
PS. não coloquei o link do Grêmio, pois a gestão Polinova não soltou sequer uma nota a respeito do aluno da Poli que morreu em São Carlos…
O exagero é algo pertinente ao sistema, parece que quanto mais melhor, precisamos gozar sem parar. Espero que esta seja uma boa reflexão para iniciarmos o ano que vem com novidades no agir individual e coletivo. Beber um pouco é bom, beber demais nos tira do ar. Podemos sim exagerar no cudado ao outro, o tal do próximo, esse sim pode ser um bom exagero para 2011. Feliz ano novo para vcs Haydée e Diego.
Muito bom o texto, Dée, você falou de várias coisas pertinentes em poucas linhas.
Sobre o exagero, concordo em parte. Creio que muitas das “manifestações” de stress que você levanta são próprias do desenvolvimento da pessoa. Há fases em que é necessário extravasar, e a idade em que isso ocorre pode mudar de sociedade para sociedade e de tempos em tempos… Talvez a poli, a USP, São Paulo, o sistema educacional atual, a competição no mercado de trabalho, o tamanho das fmílias, aidade em que os filhos saem de casa, entre outros aspectos sejam diferentes hoje e contribua para um “retardamento”. Lembre-se que o CORSO, a Peruada e outros tantos eventos são antiquissimos, por isso acho pouco provável que haja de fato uma relação. A fuga da realidade talvez seja a novidade, já que temos mais drogas disponíveis que há 100 anos atrás (será? e o ópio, existia na sanfran do início do século? Não sei!). Realmente não sei dizer, mas creio que hoje as pessoas estão mais sozinhas, e isso pode explicar a falta de socorro e as consequentes crises e mortes. Isso sim, a solidão, pode ter aumentado com todos os fatores que citei… É de se pensar…