25 de janeiro no Museu da Casa Brasileira
Ontem foi aniversário de São Paulo e escolhi passá-lo no Museu da Casa Brasileira que contou com o Canto Gregoriano dos Monges do Mosteiro de São Bento e foi seguida de uma visita orientada às exposições “Coleção MCB” e “Patrimônio da metrópole paulistana”.
Adorei o local pelo qual havia passado rapidamente em 2005 por força de um trabalho da disciplina da FAU AUP0608 (no primeiro período do Programa de Dupla Formação Eng. Civil – Arquitetura) que consistia em projetar um anexo para o museu. À época, por questão didática, foi-nos dito para desconsiderar as árvores presentes no jardim dos fundos do terreno como é possível ver na imagem ao lado – um pecado total já que conta com mais de 6.000 m² e cerca de 200 espécies de árvores brasileiras!
Originalmente foi o solar do casal Renata e Fábio Prado, construído na década de 1940. Como o casal não teve herdeiros diretos, a casa por vontade deles foi destinada à doação para fim público cultural e, dessa forma, foi cedida à Fundação Padre Anchieta. Como a Fundação não viu uso da casa para si, alugou por 2 anos para um buffett – situação que não durou muito – ainda bem! Em seguida, a casa foi cedida em comodato de ~100 anos para o Estado de São Paulo quando aí sim instalou-se o Museu da Casa Brasileira (MCB), em 1972, que é hoje vinculada à Secretaria de Estado da Cultura.
As canções do fim da manhã foram ótimas e a visita guiada muito instrutiva: começamos pela parte do mobiliário dos séculos XVII ao XXI em que haviam baús, rede, cama, mesas, cadeiras, bancos e até um piano de D. Pedro I.
Vale um destaque para o banco em forma de Anta de uma tribo indígena cujo nome não me recordo que, embora façam esses bancos, não o usam para sentar, mas num ritual de agradecimento do alimento pois eles comem carne de anta.
A mostra “Patrimônio da metrópole paulistana” era no generoso gramado que abraça o restaurante do MCB. Infelizmente não conseguimos almoçar lá, pois fazia-se necessária uma reserva da qual não dispúnhamos. Pena! Outra coisa que me deixou triste é que a visita guiada, no dia do aniversário de São Paulo, após um evento sobre Canto Gregoriano que contou com sua centena de pessoas, iniciou com apenas 5 pessoas (incluindo eu e meu namorado) e terminou com 2 pessoas (as demais foram almoçar para não perder a reserva no restaurante…). E não é que a visita foi bem interessante! Logo, o baixo quórum não é por falta de qualidade da programação ou qualificação da guia – parece que existe mesmo pouca preocupação com divulgação (me recuso a acreditar em desinteresse total de ~12 milhões de habitantes!).

Vista da fachada posterior - 1º pavimento - em que se podem ver as iniciais F e R, do primeiros donos da casa Fábio e Renata, respectivamente - Foto: Diego Rabatone Oliveira
Durante a visita suscitou-me uma questão: a casa é de estilo neo-clássico (de verdade, não esse pseudo dos empreendimentos imobiliários do fim do século XX) e está sendo pasteurizado de branco, mas parece que originalmente era amarela e branca. A pintura de duas cores confere maior profundidade e destaque a elementos arquitetônicos como as colunas.
No entanto, parece que esse enbranquecimento das construções é bem aceito e bem visto no meio arquitetônico e de restauro. Por que me incomodo? Porque isso significa por um lado, uma busca de um modelo estético que imaginamos ter os gregos – imaginamos porque não se pintava se branco as colunas e frontões, mas o material com que eram feitas as estruturas eram claros, simples assim. Por outro lado, este talvez mais discutido e discutível, tem a ver com a política urbana do último período na cidade: a da limpeza e higienização. Esse espírito higiênico tão bem acolhido pela população através da Lei Cidade Limpa, está sendo levado em frente de maneira desmedida e intervenções artísticas como grafites nos túneis e muros da cidade e nos pilares do Minhocão vêm sendo sistematicamente apagados, porém na época de eleições a lei estranhamente “não foi válida”.
Assim, cabem as reflexões: a que se propõe um intervenção artística? E a de restauro (que também é artística)? E o grafite? E a cidade nisso tudo? E a regulamentação da cidade? Há regulamentação para a arte?
Para mim o trio urabano-arquitetura-arte é indissociável e a visível guerra por espaço (real e simbólico) é a expressão de ideologias conflitantes. O que você acha?