8 de março + 2 = 8 de maio
Maio, mês que começa nos relembrando da luta dos trabalhadores e, conforme prometido, pretendo relembrar todo mês a luta das mulheres. Então, nada melhor que somar os assuntos e falar da mulher trabalhadora. Aquela mulher que estuda (em média mais que os homens) e trabalha também mais que os homens. Mas não falo do trabalho formal com carteira assinada, falo da dupla jornada, ou mesmo tripla jornada: esposa, mãe e profissional. Sobre este ponto, já me apontaram que o homem também tem jornada tripla (esposo, pai e profissional). Ambos desempenhos vários papeis, porém ao homem é reservada a tolerância quanto à pouca dedicação doméstica: pais e esposos ausentes por conta do seu lado profissional. E da mulher, da “boa mulher”, da Amélia[1], em geral, é esperada compreensão em relação à prevalescência da atividade pública (profissional) em relação à privada (esposa e filhos). Do homem espera-se que cumpra o papel do provedor e, da mulher, o de submissão.
Dizem por aí que feminismo não tem mais sentido porque os tempos mudaram, porque após a pílula, podemos fazer sexo com quem quisermos sem engravidar, podemos usar calças, nos separar em casamentos indesejáveis e até trabalhar para adquirir certa independência financeira. Que mais podemos querer, não é mesmo?
Bem, há muito o que discorrer em vários aspectos sobre o que ainda queremos e precisamos: o nosso livre arbítrio em relação a nosso próprio corpo ainda tem muito o que avançar, o julgamento social pela quantidade de parceiros sexuais ainda existe e incorre em muito preconceito com as mulheres (diferente dos homens), e, no mercado de trabalho – foco deste post – ainda somos claramente desvalorizadas pois ganhamos menos que os homens no desempenho da mesma função.
Recentemente, a RAIS[2] (Relação Anual de Informações Sociais) publicou alguns dados, entre os quais:
ELES & ELAS | DELES | DELAS |
reajuste salarial médio geral | 2,62% | 2,54% |
salário médio 2009 | R$ 1.828,71 | R$ 1.514,99 |
salário médio 2010 | R$ 1.876,58 | R$ 1.553,44 |
salário médio com ensino superior | R$ 5.416,66 | R$ 3.207,28 |
reajuste salarial p/ pessoas com nível superior | 1,36% | 3,17% |
O que interpretar disso?
Que mulheres com maior escolaridade estão alcançando percentuais de reajuste superiores ao dos homens, mas que o salário médio das mulheres com ensino superior não chega a 60% do salário dos homens. Mas essa tendência, se mantida, pode levar a maior igualdade salarial no futuro e – pasmem! – fazendo as contas esse futuro não é tão próximo. Se mantidos os 1,36% e 3,17% apresentados por anos consecutivos, praticamente só em 2040 haverá equiparação salarial.
Outro ponto a ser colocado é que o reajuste salarial médio deles é levemente maior que o delas, uma tendência que acentua a desigualdade dos salários médios e que reverte a tendência do ano anteior em que o reajuste do salário das mulheres havia ficado levemente maior que o dos homens. Aqui, cabe reflexão por parte do poder público no que tange às medidas que visam inclusão e diminuição das desigualdades. O que havia começado a dar certo? O que foi mudado? Onde, como e para quem devem ser dados quais tipos de incentivos?
Questões para os próximos posts 😉
Fontes:
[1]"Ai, meu Deus, que saudades da Amélia Aquilo sim é que era mulher Às vezes passava fome ao meu lado E achava bonito não ter o que comer Mas quando me via contrariado Dizia: meu filho, o que se há de fazer ? Amélia não tinha a menor vaidade Amélia é que era a mulher de verdade" Mario Lago [2] RAIS [3] Universidade Livre Feminista
Haydee
A luta é justíssima, as desigualdades salariais tem que ser eliminadas, mas a luta está grande para todos, hoje em dia muitos homens também fazem jornada dupla para ajudar a esposa, saem de madrugada de casa e vão dormir tarde, no entanto só aposentam 5 anos após as mulheres, sendo que a expectativa de vida delas é maior do que a dos homens. Vejo que aos poucos homens e mulheres vão caminhando para eliminar essas barreiras, mas ainda falta muito…