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Isso é um problema de engenharia?!

Por diversas razões, relembrei de uma dinâmica que um professor meu da Poli em aula de Tecnologia do Concreto uma certa vez…

Ele apresentou a manchete do jornal do dia a respeito das inundações na cidade de São Paulo no dia anterior e perguntou à sala: “Isso é um problema de engenharia?”
A sala ficou em silêncio como fomos bem adestrados a ficar por toda nossa vida escolar…
Ele propôs então a seguinte dinâmica: de um lado deveriam se sentar os que achavam que era um problema de engª, do outros os que achavam que não era um problema de engª e, no meio, os que achavam que era um problema dos políticos. Eu estava na sala junto com um amigo e entre nós houve um olhar cúmplice de que era óbvio que se tratava de um problema de engª, assim como de gestão de políticas públicas, etc. e que toda a sala sentaria do nosso lado.
Qual não foi nossa surpresa ao ver que apenas 6 pessoas (4 além de nós) achavam que inundações urbanas tinham alguma coisa a ver com engª. Uns 4 achavam que o problema era dos políticos e a grande maioria achava que isso não tinha nada a ver com engª.
Interessante foi a argumentação daqueles deste último grupo dizendo que, se o engº seguiu à risca as normas no momento de construir as estruturas hidráulicas ele não tinha nada a ver com o caso. Vejam, não estávamos discutindo responsabilização legal nem nada disso… Era uma discussão sobre engª no âmbito mais abstrato e isso havia ficado claro por parte do docente. Foi ignorado inclusive o que foi dado em aulas anteriores da própria disciplina explicando como e quem fazem as tais normas técnicas.

Bem, só posso dizer que esse dia me marcou.

DESAFIOS DO CONCRETO – palestra Paulo Helene

No último sábado fui a uma palestra gratuita do IDD proferida pelo Prof. Paulo Helene (PH). Durou cerca de 2h e desviou-se um pouco das minhas expectativas pois e imaginava ouvir algo como: “quais são os novos desafios do concreto” ou “na atualidade o que ainda não foi resolvido é…”. Não foi esse o caminho adotado pelo palestrante, mas sim de fazer uma abordagem tipo estudo de caso, tendo como tema “projeto de estanqueidade de uma cobertura“.

Abaixo compartilho com vocês minhas anotações 😉

Exemplo/estudo de caso: Edifício Vilanova Artigas [Edifício da FAU-USP]

Contextualização

PH apresenta foto e situa a construção na história da arquitetura: o edifício da FAU-USP, assim como o da Civil e o MASP fizeram parte do movimento brutalista. Diz também que a engenharia não correspondeu aos desafios propostos pela arquitetura no que tange à durabilidade das estruturas.

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O início

Faz tempo que não escrevo e este ano, minha vida mudou bastante: “bem-vinda ao mundo do trabalho!”.

E finalmente, estou trabalhando onde eu queria, na obra. Queria ver como as construções moldadas na imaginação dos arquitetos e viabilizadas pelos cálculos dos engenheiros viram realidade sob nossos pés…

Estou aprendendo muito, não aquele aprendizado formal, didaticamente enquadrado nas folhas de celulose marcadas nas prensas. Estou sentindo um aprendizado diferente, marcado pelo sol, vento, chuva, pó, olhares, desvios, apertos de mão, tapinhas nas costas, texturas nas pontas dos dedos, ritmo sonoro da britadeira, betoneira a desenhar um pião rodando no ar.

Há coisas que não aprendo, ou melhor, não aceito: o preconceito.

Ah, o preconceito não é algo sentido assim explicitamente. Quanto à sua expressão, é comum ver tanto aqueles que quase dizem que obra não é lugar para mulher como aqueles que dizem não ter preconceito algum, no entanto não resistem a uma “brincadeirinha inocente”…

É foda ouvir, mesmo que num tom de suposta brincadeira, coisas do tipo:

– mulher feliz é mulher que apanha em casa (essa foi hj)

– fulano, num discute com ela não, não sabe que discutir com mulher não adianta (essa tb foi hj)

– ah, mas vc vai ficar sozinha na obra… isso não dá certo (essa foi semana passada)

– só mulher na obra, agora que isso não funciona (essa foi no início da semana)

– lugar de mulher é na cozinha (a quem respondi prontamente: Ainda bem que sua mulher pensa assim…)

– mulher que gosta de homem que não é rico, é burra (isso dito por um homem, e duvido que rico, senão não estaria por aqui…)

– você não pode expor nenhuma parte do seu corpo que provoque um “peão” pois isso pode causar um acidente de trabalho, até mesmo o ombro pode atiçar a imaginação dele (como se todos os operários fossem tarados heterossexuais ambulantes…)

– você deve vir vestida o mais parecida com homem possível (o que me fez ir a José Paulino gastar a contra-gosto algumas dezenas de reais comprando calças jeans e camisetas com mangas, regatas nem pensar…)

– prefiro ter um filho drogado ou ladrão a um filho veado, pois existe ex-drogado e ex-ladrão, mas não ex-veado (a que respondi que era um preconceito sem tamanho preferir um infrato da lei a respeitar a opção sexual alheia)

Colocando mais ingredientes nesse caldo duro e concreto do mais puro conservadorismo, temos o comportamento hipócrita dos machinhos repreeendendo-se uns aos outros ao dizer um palavrão – entendendo que nesse ato ofendem a ouvinte, talvez um ser casto e puro que não pode ouvir palavras como pinto, porra, caralho, puta que pariu, merda, cacete, etc. – e como se não dissesse também.

Tsc, tsc, tsc – o aparente respeito demonstra o desejo deles: eles a querem casta, pura e ingênua que não pode ouvir palavrão e, portanto, não pertencente àquele espaço, desejam-na, longe dali. Esse aparente respeito se desfaz nas primeiras semanas, ao longo das conversas no almoço, no corredor do escritório, na van que leva ao canteiro Ana Rosa.

Já as “brincadeiras” com temas machistas e de preconceito aos homo ou bissexuais – essas nao se desfizeram nas primeiras semanas, e acho que vem assim há décadas…

Esse é o início 😉